Demitir não é uma tarefa agradável. Sei que tem gente que fala que é tranquilo, que faz isso do mesmo modo que faz uma admissão, mas eu não acredito. Pra mim quem fala isso está de fato usando um belo mecanismo de defesa.
Confira O Guia de Como Demitir e aprenda tudo sobre o processo de demissão.
Lembro-me da primeira demissão que fiz. Era um dos vários momentos de crise que nosso País já atravessou e as áreas deveriam “enxugar” seu headcount. Em um primeiro momento me agarrei nisso e achava que a responsabilidade daquele processo não era minha, estava fazendo como gestora o que me mandaram fazer, não tive escolha. Essa foi a primeira bobagem que me dei conta. A escolha foi minha sim. Eu tinha uma equipe de 10 pessoas e deveria cortar uma. Eu escolhi quem eu queria cortar, portanto a escolha não foi de mais ninguém. Eu decidi por aquela pessoa, os critérios foram meus. No famigerado dia da demissão simplesmente não tive coragem. Fiquei de 10:00 horas da manhã até as 18:00 horas com a menina. Conversei, almocei com ela e não tinha coragem de falar. As 18:00 hs ela me disse: ”bom Andréa não sei o que você tinha para me falar, mas eu tenho que ir embora, tenho aula”. E eu simplesmente comecei a chorar na frente dela e disse que tinha que demiti-la. Um desastre!
Não à toa a demissão é tida como o último dos recursos.
Ela só deve ser realizada quando esgotadas todas as possibilidades. Por esgotadas todas as possibilidades deve-se entender que os feedbacks de forma precisa, no momento próximo ao fato gerador, baseado em dados e fatos, foram devidamente endereçados. Que a esses feedbacks, seguiram-se planos de ação. E não de intenção, onde o próprio colaborador, conscientizou-se do impacto de seu comportamento e resolveu tomar uma série de medidas para mudá-lo. Medidas essas que ele decide quais são e compartilha com você gestor. Não é um processo onde o gestor diz ao colaborador o que ele deve fazer. A mudança só é operada a partir daquilo que faz sentido para quem quer mudar. Ela não pode ser imposta. Por isso o momento do desligamento não é o momento de conversar. As conversas já foram esgotadas. Este é o momento de formalizar que você está ali para comunicar a sua decisão de encerrar o vínculo empregatício, de levar a cabo a demissão. Tome muito cuidado na forma como você irá comunicar sua decisão. Algumas palavras são desastrosas. Frases do tipo: “infelizmente eu tenho que desligá-lo”, não ajudam em nada. O outro pode ter uma reação emocional forte e retrucar, infelizmente para quem?Cuidado com os erros…
Outro erro comum é: “eu não queria ter que fazer isso…”. Ao que você pode ser interrompido com um “se não queria fazer, então não faça!”. Ou mesmo “se não é você, quem é? Me diga que eu vou lá falar com a pessoa, eu tenho que reverter…” O desligamento também não é a melhor hora para elogios. Numa tentativa de aplacar uma espécie de culpa, muitos gestores partem para enaltecer o colaborador e dizem coisas do tipo: “você tem um bom currículo, não precisa se preocupar. Tenho certeza de que rapidamente você irá se recolocar…”. Isso pode aumentar a raiva do demitido que poderá retrucar: “se meu currículo é tão bom, então porque está me mandando embora?”. Por isso além de ser o último recurso, a demissão deve ser planejada. Ensaie muito bem seu discurso, meça bem cada palavra. Fale apenas o essencial. Repito: este não é o momento do feedback. Não caia na armadilha de achar que apenas comunicando sua decisão você estará sendo frio e impessoal e que esta não é a melhor forma. Acredite, não prolongue este momento, esta é a pior decisão que você pode tomar.Preparação é tudo!
Prepare-se para lidar com a reação emocional do indivíduo ao ouvir a palavra demissão. Mesmo em momentos de crise, quando a pessoa desconfia que isto é possível, quando a possibilidade se torna realidade o chão parece se abrir. Choros são comuns, raiva, deboches, xingamentos. Soube de um rapaz que se jogou no chão da empresa e ficou de bruços agarrado no tapete por cerca de 3 horas no melhor estilo Scarlet em O Vento Levou: “eu não largarei Tara jamais…”. Se isso acontecer o melhor a fazer é nada. Qualquer coisa que você falar, ou mesmo uma tentativa de um contato físico no sentido de acolhimento poderá provocar ainda mais fúria. Poderá funcionar como gasolina na fogueira. Por pior que possa lhe parecer essa ideia, é extremamente respeitoso dar ao outro o tempo que ele precisa para se acalmar. Não diga palavras como calma, isso vai passar, ou outras dessa natureza cuja intenção até pode ser boa, mas o impacto pode ser desastroso. Pegue um copo d’água e deixe próximo ao colaborador. As pessoas reagem de modo diferente e tem tempos diferente. Respeite. A exceção é caso haja ameaça à sua integridade física. Caso a fúria do demitido possa se configurar em algo desta natureza, não pague para ver. Saia da sala, chame a segurança. Não tente você resolver o problema. Neste momento é em você que a pessoa está depositando toda a raiva dela. Uma boa dica é solicitar a área de Recursos Humanos que prepare a prévia do cálculo da indenização. A primeira preocupação que se passa na cabeça do demitido é como ele irá pagar as contas no fim do mês. Via de regra, dada nossa legislação, sempre há um fôlego financeiro, mas neste momento a pessoa não consegue raciocinar neste sentido. Assim que possível, demonstre a prévia do que ela irá receber, bem como quais são os próximos passos, o que ela deverá assinar, devolver e realizar. Isso ajuda a organizar o raciocínio do demitido.