E assim inauguramos o principal dilema shakespeariano da Gestão. Inconscientemente tratamos essas questões como caminhos opostos, que não se cruzam, enquanto que pelo contrário, trata-se de dois lados da mesma moeda.
A liderança é algo realmente complexo. Via de regra, chegamos nesse lugar porque éramos muito bom fazendo algo, tecnicamente éramos “feras” em alguma coisa. Quando ninguém mexia em Excel direito era aquele sujeito que já sabia fazer macro, quando começaram a falar em proc-V a pessoa já sabia o que era o H, e por aí vai. Sempre que alguém tinha uma dúvida de como fazer algo, era com essa “fera” que qualquer um ia se aconselhar. E o chefe só observando e pensando consigo mesmo: esse cara tem uma liderança natural, olha lá como todo mundo vai falar com ele?
Na primeira oportunidade, na primeira vaga, a decisão já está tomada: é o “fera”! E aí, como dizer não a um convite irresistível desses? Liderança é um lugar sexy. Ganha-se mais, é não é só grana não. Os benefícios as vezes contam mais: é vaga na garagem, mochila, plano de saúde diferenciado, o cartão de visitas (algo completamente ultrapassado, mas ainda valorizado) é o próprio status ligado ao cargo. É a nossa vaidade falando mais alto. E para o promovido tudo faz muito sentido, afinal de contas você só está sendo reconhecido.
Então bora seguir em frente!
Só que quando você senta na cadeira de gestor, a realidade que ninguém te contou, surge bem rápido. Você passa a ser requerido por coisas que não tem nada a ver com as coisas que te trouxeram até aqui.
A competência técnica te leva até este lugar de referência em determinado assunto, que é sim o primeiro passo para a liderança, mas ele é só um pedaço pequeno da história. A partir daqui são suas atitudes, suas habilidades para lidar com o time, a gestão do seu tempo, o que de fato você valoriza é que fará com que você continue nesse caminho ou simplesmente fracasse.
E nos tempos atuais ainda temos um impacto enorme da velocidade do dia a dia, da pressão pelos resultados trazendo para cada um uma sensação de devedor, de que deveria ter feito mais, que ainda não foi o suficiente.
E a colaboração?
A grande maioria dos gestores presentes hoje nas Organizações, que começaram suas carreiras na era A.G. (antes do Google) mais escancaradamente ou dissimuladamente diziam: informação é poder. E não se enganem os mais novos, àqueles da era D.G., que se acham muito diferentes, mas que no fundo agem de uma forma muito parecida.
A informação está espalhada, aberta, basta procurar. Mas o que eu achei por que vou sair dividindo com o coleguinha? O que eu ganho com isso? A lógica da colaboração ganhou uma camada de “gamificação”.
Junte isso tudo em nossa humanidade e temos o seguinte quadro: tudo que sabíamos fazer, não é o que passa a ser requerido, as perguntas e questões que me fazem eu não sei responder, e o que vem no pacote é a nossa insegurança. E aí não tem jeito, quanto mais inseguros nos sentimos, mais controladores ficamos. Fica impossível compartilhar, delegar ou assumir qualquer vulnerabilidade.
Uma lição:
A primeira lição que um gestor deveria ter é que ele tem que desapegar, desapegar da sua “planilha” seja ela qual for. Se ele é gestor não pode vir somente dele mesmo a capacidade de gerar o resultado. Coloque-se no lugar do acionista. Para que ele vai pagar uma equipe se só você sabe fazer?
Ser gestor é ter a capacidade de gerar resultado por meio de seu time. E pra isso, aceita que doí menos: você vai ter que delegar!
E para delegar você vai ter que ter um bom time. Você tem um bom time? Como você sabe que tem um bom time? Você realmente avalia a diferença entre as pessoas? Ou você, dado o seu temor e insegurança de ser mal visto, impopular, avalia todo mundo como ótimo, lindo e maravilhoso? O quanto o medo de endereçar uma conversa difícil faz com que você procrastine um feedback daqueles difíceis? Feedback não é correção de tarefa? Não é apontar erro na execução da rotina? Feedback é demonstrar desvio de comportamento através de evidências, e não de julgamentos, bem como seu impacto no resultado esperado.
Saiba mais sobre feedback nesse texto que escrevi aqui.
Se você não tem o melhor time, você não confia no time. E isso é muito fácil de ver, e o que é pior, qualquer um enxerga com muita facilidade. É aquele gestor que vive reclamando pelos corredores que só ele sabe fazer bem feito, que ele não tem tempo para nada porque tem que verificar tudo… Os menos radicais dizem que só tem um para quem delegar, como se esse fosse um problema de alguém que não dele mesmo. Como se sente esse colaborador que é o único capaz de assumir todas as responsabilidades? Por quanto tempo isso é motivador? O quão meritocrático são esses tipos de gestores?
E o que fazer?
Ser meritocrático é ter um time bom o suficiente, em quem você confie nas diferentes capacidades das pessoas, para poder delegar as diversas responsabilidades necessárias para alcançar os resultados que sua área tem que entregar.
E voltando para a questão da nossa vaidade, para delegar você terá que aprender que existe um modo diferente de chegar ao resultado que não é o seu modo. Delegação de verdade, é delegação da responsabilidade e não da tarefa. Delegar algo para o subordinado e pedir para ser copiado em todos os e-mails ou participar de todas as reuniões não é delegação. Deixe-se surpreender pela possibilidade do seu subordinado fazer algo bem melhor do que você faria. Só assim você crescerá como líder!
Eu elaborei um material para te ajudar no dia a dia de um cargo de gestão. Que tal dar uma olhada aqui e ver quais são as suas prioridades e como você pode ganhar mais tempo no trabalho com responsabilidade!
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