A Síndrome de Estocolmo segundo especialistas é o “nome dado a um estado psicológico particular em que uma pessoa, submetida a um tempo prolongado de intimidação, passa a ter simpatia e sentimento de amor ou amizade perante o seu agressor“.
O termo foi cunhado a partir de um assalto ocorrido em um banco na Suécia, no ano de 1973, quando Janne Olsson entrou encapuzado, armado com uma metralhadora e explosivos em um banco no centro da capital sueca. Exigiu a presença de um famoso criminoso preso e, durante 6 dias, assaltantes e reféns conviveram dentro do banco e criaram uma relação afetiva.
Essa estranha relação psicológica de cumplicidade foi batizada de síndrome de Estocolmo.
O caso mais famoso dessa síndrome, também ocorrido na década de 70, é o da milionária americana Patty Hearst, que sequestrada por membros do Exército Simbionês de Libertação. Em tese ainda no cativeiro, dois meses depois, juntou-se a eles num assalto a banco.
Este é realmente um fenômeno psicológico dos mais interessantes, e que talvez não esteja tão longe, e preso a casos de famosos, quanto a maioria de nós pode pensar. Será que de fato, a síndrome de Estocolmo não está presente no dia a dia de muitos de nós?
Sempre acreditei que liderança se dá pelo exemplo, um filho cresce olhando as costas de um pai. Um subordinado se espelha nas atitudes de seu líder, tanto para o bem quanto para o mal.
Em minhas palestras e treinamentos sobre liderança, divido esse conceito e estimulo os participantes a refletirem sobre os líderes que tiveram ao longo de sua carreira, e compartilhar quem foi o mais inspirador, quais eram suas atitudes e o que eles procuraram incorporar no próprio comportamento.
E o seu chefe?
O fato é que uma parcela significativa sempre começa seu relato mais ou menos assim: certa vez tive um chefe que era muito duro, ele gritava e exigia muito. Só que ao invés de vir um depoimento de algo ruim, como é de se esperar, na sequência o que surge é admiração e respeito por este líder.
Por que será que tantas pessoas amam líderes assim? Será que estamos diante de uma versão corporativa para o fenômeno psicológico de Estocolmo? Mais do que tolerar comportamentos como gritos, socos na mesa, piadas e sarcasmos, muitos confessam admirar líderes que tem essas atitudes.
Tanto é fato, que a despeito de todos os arroubos de sua personalidade, Steve Jobs foi sem dúvida, um dos líderes mais admirados de nossos tempos.
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Entendo que parte da explicação desse fato está nos próprios líderes que ou são inseguros, ou acreditam verdadeiramente que no tranco o indivíduo aprende a aguentar a pressão. Parte da explicação pode vir também do fato que este foi o estilo gerencial com o qual ele foi gerenciado.
Mas e do lado dos subordinados?
Sempre aprendi que o limite é algo que se dá no espaço entre os indivíduos. Cada parte de uma relação deve dizer ao outro até onde este pode ir.
E essa não é uma conversa fácil, uma vez que nós latinos somos absurdamente relacionais. E assim, um pouco mais de assertividade na comunicação é facilmente interpretado como grosseria. Nas relações existentes abaixo da linha do Equador, temos que ter muito cuidado com as palavras e o tom de voz que empregamos. É fácil ferir o outro…
Outro ponto relevante é que algumas “doenças” coexistem nos indivíduos, ou seja, só há um sádico, porque há um masoquista, só há um voyeur porque há um exibicionista.
Mas, a despeito de qualquer um desses fatores, existem sim chefes que são grosseiros na forma de solicitar uma simples tarefa, que explodem muitas vezes diante da eminência do erro, que socam mesa e não tem pudor de gritar.
Então como entender que eles possam ser admirados?
Comecei minha vida profissional no varejo e lá aprendi uma lição que me serve até hoje: cliente bom é cliente que reclama. Enquanto o cliente está reclamando com você é porque ele quer que você resolva o problema dele. Quando ele para de reclamar, significa que ele desistiu, e ai não há mais chance de resgate da relação.
Talvez isso sirva para explicar um pouco essa admiração por líderes que pecam na forma. O modo torto de falar é atenuado por um entendimento de que a intenção é de querer consertar, resgatar algo que não está bom.
Sempre me falaram que trabalhar comigo não é fácil. Eu não sou santa. Com certeza muitos dos que já trabalharam comigo dirão que este artigo é autoral. Ao mesmo tempo sempre fui reconhecida como uma líder que sabe desenvolver o potencial das pessoas. Mas será que os fins justificam o meio? Quero crer que não, pois nunca me orgulhei das vezes que passei da medida.
Por mais que pense nisso, definitivamente não encontro uma resposta.
O fato é que somos humanos, independente do lugar que ocupamos, seja como líderes ou como liderados. E nossa humanidade é sem dúvida maior que o chamado profissionalismo.
Por isso cometemos erros e acertos o tempo todo. Ninguém é obrigado a aturar grosserias e tem todo o direito de não querer uma relação assim, mas por outro lado, todos temos dias piores, pouca paciência e fazemos coisas das quais nos arrependemos.
Temos que construir relações maduras, onde haja escuta, onde possamos com franqueza falar do que não funciona do mesmo modo como falamos do que está funcionando. Sempre que possível, conversar ainda me parece ser o melhor caminho.